JHC sofre desgaste após R$ 8 mi para a Beija-Flor

O investimento de R$ 8 milhões em uma escola de samba do Rio de Janeiro continua sendo alvo de críticas à gestão JHC (PL). Em quase 2 anos e meio de mandato, esse tem se apresentado como o maior desgaste enfrentado pelo gestor da capital alagoana. Na Câmara Municipal, a oposição fez duras críticas e o vereador Joãozinho (PSD) levou a denúncia ao Ministério Público Estadual (MPE) e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).
À Tribuna, o Ministério Público Estadual (MPE), confirmou que recebeu na última sexta-feira (26), a representação impetrada pelo vereador.
“Com base nela [a representação], a Fazenda Pública Municipal instaurou uma notícia de fato e solicitados esclarecimentos e cópias que integram o processo administrativo que ensejou a celebração da transferência de recursos. No momento, o Ministério Público ainda não tem o que declarar, achando viável aguardar resposta para poder emitir um posicionamento”, informou o MP Estadual.
Por parte do MDB, os Calheiros – senador Renan e ministro Renan Filho – fizeram declarações sobre o assunto em suas redes sociais.
“Mais uma vez, a Prefeitura de Maceió atravessa o samba e desafina com o dinheiro do povo. Uma cidade, cujo enredo é a carência, torrar dinheiro público com escola de samba do Rio de Janeiro merece nota zero em todos os quesitos da decência”, publicou o senador Renan Calheiros (MDB).
O ministro dos transportes e ex-governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), fez uma crítica ainda mais ampla. “Conflito de prioridades! Mais do que isso, um crime com as necessidades do povo maceioense! A prefeitura da capital vai gastar R$ 8 milhões para fazer samba do Rio de Janeiro em pleno ano eleitoral. Em 4 anos, a gestão municipal se ocupou de festas e factoides de Instagram, enquanto escolas de samba de Maceió se acabam e os artistas populares que vão se apresentar no São João não são valorizados como merecem”.
Acreditando que isso vai trazer problemas para JHC, o ministro menciona o Tribunal de Contas do Estado. “O São João já está na mira do Tribunal de Contas. É preciso impedir também essa farra carnavalesca com verba pública. Uma coisa é certa: ‘pessoas mentirosas e dissimuladas até conseguem enganar as outras, mas com o tempo elas se enrolam nas próprias mentiras e a máscara cai’”.
Na Assembleia Legislativa do Estado (ALE), onde o prefeito de Maceió tem enfrentado diversos questionamentos, o deputado Dudu Ronalsa (MDB), critica a forma como JHC lida com os problemas crônicos da capital.
“Maceió precisa de tanto investimento, é só chover que você vê como Maceió fica. E o mercado, ele [JHC] prometeu investir milhões e está do mesmo jeito. O mercado do Benedito Bentes está há sete meses desativado. O prefeito acaba se contradizendo que investe recursos públicos para uma escola de samba do Rio de Janeiro quando as escolas de samba de Maceió e o coco de roda receberão apoio total de R$ 300 mil, como fiquei sabendo”, ressalta o parlamentar.
Outras iniciativas de JHC também são atacadas pelo deputado. “Entrei contra a abertura do Corredor Vera Arruda, que ele resolveu fazer por causa de um acordo com hotel. Ele fez consulta pública perguntando se as pessoas estavam satisfeitas com o trânsito de Maceió. Claro que as pessoas não estão, o problema do trânsito de Maceió existe, mas ele não apresentou plano de mobilidade urbana, e coloca culpa somente no Corredor Vera Arruda”.
Dudu Ronalsa também fala em perseguição política a quem crítica o gestor da capital. De acordo com o parlamentar, JHC tem impedido obras propostas por seu mandato na região de Fernão Velho, bairro localizado na parte alta.
“Ele é difícil e complicado. Tem parque linear em Fernão Velho, a escadaria da Goiabeira e do Matadouro. Ele notificou dizendo que não poderia ter sido feita. O Governo de Alagoas fez quase 40 obras desse tipo, e ele só está fazendo isso onde é área de atuação nossa”, argumenta.
Em vídeo enviado pelo parlamentar à Tribuna, imagens sobre essa possível situação são apresentadas. “[O prefeito] pediu que a SMTT fosse em Fernão Velho e levasse o material da empresa que está fazendo uma obra do estado solicitada por mim. Eu já tinha falado da perseguição que o prefeito está fazendo não a mim, mas à comunidade. Fernão Velho não tem culpa do problema pessoal que o prefeito tem comigo, ele tentou me prejudicar na eleição, graças a Deus ganhamos. Enquanto era entre eu e ele estava tudo tranquilo, faz parte da política. Agora perseguir e não deixar que uma obra do estado seja concretizada para beneficiar uma comunidade como ele tentou fazer na Goiabeira, Matadouro, tentou fazer em Fernão Velho. Já é a 2ª vez que a prefeitura paralisa uma obra”.
Festa para poucos tende a gerar insatisfação no eleitorado
A cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luciana Santana entende que o eleitorado fica insatisfeito com a iniciativa.
“A forma como aconteceu essa escolha, essa definição com a Beija-Flor não foi muito bem aceita por parte da população. Primeiro porque a população não vai participar, a massa mesmo não vai participar desse evento. A gente sabe que é um grupo muito restrito que acaba tendo condições de participar desse evento”.
Os problemas enfrentados atualmente na cidade levam a opinião pública. “A gente sabe que há muitas questões sociais, muitos problemas em Maceió que ainda não foram solucionados, haja vista a questão da própria Braskem, quem anda a passos lentos. Tem também a questão saneamento, então tem muitas questões que precisam ser resolvidas. E isso, é claro, acaba vindo para o radar de comparação do eleitor”.
Em relação ao turismo, a cientista política entende que a população não se sente contemplada. “Muitas vezes ele mesmo é excluído do turismo dentro da própria capital, e a população também compara com os problemas que existem dentro da cidade. Isso faz com que tenha essas críticas mais fortes em relação a ele”.
Por outro lado, ela diz compreender a importância da ação. “Pesa de ser uma forma de divulgação da capital na área do turismo, principalmente tentando atrair um público mais específico, também público internacional”.
Apesar do desgaste que vê nesse caso, Luciana Santana acredita que já há uma estratégia engatilhada. “Eu acho que desde o início da gestão o prefeito JHC sempre conseguiu se proteger muito bem de críticas. Adotou muitas ações que, quer queira ou quer não, tem um apelo popular: as festas, os shows, os monumentos, equipamentos instagramáveis, isso cria um apelo popular, então isso cria uma simpatia como o eleitor”.