Agência Alagoas
Fábio Guedes

Com o retorno das aulas, após o período suspenso devido à pandemia, o desafio agora da Educação em Alagoas é buscar recuperar a lacuna deixada no ano letivo de 2020. Em entrevista ao CadaMinuto, o secretário Fábio Guedes traçou um raio X da Educação em todo o estado e seus desafios. 

Além disso, comentou o ano letivo de 2020 e como vem sendo a articulação de todas as secretarias estaduais do país quanto às cobranças ao Governo Federal para a área. Confira 

Após o Supremo Tribunal Federal (STF), ter considerado inconstitucional, a lei da Escola Livre, aprovada em 2016 na Assembleia Legislativa de Alagoas, como o senhor avalia a proposta? 

Aquilo que não é constitucional e não pode ser colocado em prática como propunha aquele Projeto de Lei, não vale a pena emitir opinião. É pauta superada e o STF já se manifestou, na minha ótica, de maneira apropriada.

Professores e diretores relataram que com as aulas em formato online, houve um aumento significativo na evasão escolar, nas escolas públicas de Alagoas. Como a gestão do senhor vai buscar reverter essa situação neste ano? A qual fator atribui isso? 

A evasão escolar aconteceu em todos os níveis de ensino e segmentos que trabalham com educação. O que também se verificou país afora. A principal razão para isso, já reconhecida em vários fóruns de discussão da educação brasileira, foi o restrito acesso às tecnologias e à conectividade, por parte das famílias menos abastadas. Além disso, são inúmeros e grandes os locais onde a conexão à internet é impossível de ser alcançada. Outro aspecto a ser salientado foi a queda da renda média das famílias brasileiras, dificultando o acesso dos estudantes a esse tipo de serviço. Por sua vez, o desemprego afetou sobremaneira as famílias que mantinham seus filhos nas escolas da rede privada de ensino. Por essa razão muitos desses estabelecimentos fecharam as portas. Isso provocou um movimento contrário ao abordado na pergunta e já observado no processo de matrícula na rede estadual de Alagoas: um crescimento extraordinário da demanda por matrículas, superando em mais de 4 mil vagas a oferta inicial à disposição em nosso sistema 

Qual o ‘Raio X’ que o senhor faz da Educação no estado de Alagoas e o que ainda pode ser feito? 

A educação em Alagoas, nos últimos anos, conquistou avanços consideráveis, que não podem ser menosprezados, de maneira alguma. E isso foi alcançado através da articulação política com os municípios, através da construção de uma metodologia de trabalho que permitiu quebrar a inércia que mantinha o estado nas últimas colocações do principal indicador de avaliação do ensino básico, o IDEB. Através do Programa Escola 10, premiado no ano passado pelo Ranking de Competitividade dos Estados, promovido pela organização CLP-Liderança Pública, a educação em Alagoas iniciou uma curva ascendente de melhorias. A título de resultados, em 2017, alcançamos o 3º lugar no ranking nacional no alcance das metas definidas no IDEB. Mais de 80% dos municípios alagoanos atingiram essas metas para os anos iniciais do ensino fundamental, ficando atrás apenas dos estados do Ceará e Minas Gerais. Em 2019, chegamos no 2º lugar nacional no alcance dessas mesmas metas para os anos iniciais do ensino fundamental, confirmando o crescimento acelerado do estado na educação básica. Aproximadamente 95% dos municípios atingiram a média estipulada pelo INEP para a rede pública, ficando atrás apenas atrás do estado Ceará, referência internacional em educação básica. Vejam, isso não é algo trivial. É um movimento quase impensável anos atrás e esses resultados chamaram a atenção das equipes técnicas do INEP e do Ministério da Educação. Temos muito o que avançar, ainda, e o Programa Escola 10, grande responsável por isso, vai ser aprimorado e reavaliado para ser ainda mais eficiente. O nosso desafio é fazer esses resultados também acontecerem no ensino médio. Nesse, precisamos atuar em dois problemas principais: a elevada evasão de estudantes no primeiro ano, além de elevar as possibilidades de programas de iniciação científica, empreendedorismo tecnológico e qualificação profissional para permitir aos nossos estudantes maiores alternativas de construção de projetos de vida para quando concluírem ensino básico. Outro grande desafio é fazer avançar os programas já existentes para os jovens e adultos (EJA) para que possam fechar o ciclo de formação e deem seguimento aos seus propósitos com melhores possibilidades de enfrentar as dificuldades do mercado de trabalho. Em 2021 teremos mais um grande desafio: o de superamos a crise da pandemia e suas consequências na educação, dando continuidade ao crescimento nesses indicadores. Acreditamos ser isso possível, junto com os gestores municipais.

Escolas particulares em Maceió retornaram as atividades e adotaram o formato híbrido. Avalia que há segurança sanitária? É a melhor alternativa? 

Enquanto a população brasileira não for vacinada, com a inclusão dos profissionais de educação no grupo de prioridades, não há ambiente 100% seguro e os riscos de contaminação são elevados. É claro que as escolas particulares têm capacidade muito maior de adaptação à situação imposta pela pandemia, pois a as condições de gestão são completamente diferentes das que regem a administração pública e suas obrigações jurídicas. O formato híbrido é um modelo que está em teste no país inteiro e muitas de suas experiências certamente ficarão para os próximos anos. Entretanto, adotar o modelo híbrido em redes de ensino públicas municipais e estaduais depende muito das condições sanitárias locais e estaduais. Nesse sentido não estamos falando do ambiente escolar propriamente dito, pois nesse a segurança sanitária pode até ser elevada. Estamos falando em colocar em risco milhares de pessoas, estudantes, responsáveis, servidores públicos, motoristas de transportes escolares, etc. Esses passariam a circular cotidianamente para chegar até o ambiente escolar. Compreendemos a ansiedade, as expectativas e os problemas que as famílias estão sentindo nesse momento de paralisação das atividades escolares no ambiente físico das escolas, mas seria uma temeridade voltarmos com as aulas presenciais, mesmo no modelo híbrido, colocando em risco milhares de pessoas e aumentando o ritmo de contágio, num momento em que há um recrudescimento do contágio, do número de óbitos por Covid-19 no país inteiro, e em Alagoas especialmente, onde também existe a necessidade premente de se adotar medidas que elevem o distanciamento social. 

Alagoas ainda tem alguns índices baixos na educação. Como avalia esse impacto diante dessa lacuna feita pela pandemia? 

Em 2020 a educação sofreu silenciosamente. A sociedade brasileira acompanhou, muito perto, como as áreas de saúde aguentaram as consequências dos avanços dos casos de contágio e de óbitos. Em 2021, continuamos vendo o mesmo filme, mas agora com um capítulo adicional que é a chegada das vacinas. Porém, no caso brasileiro, o ritmo da vacinação é muito lento e a área da educação vive, agora, a expectativa de ser incluída nos grupos prioritários. Mesmo com essa esperança, a perda é muito grande, de um ano para o outro. Somente para efeito de exemplo, uma pesquisa divulgada pela FGV em parceria com a Fundação Lehmann, aponta que no ensino fundamental os alunos perderam cerca de 34% dos conteúdos, ano passado, e no ensino médio, 33%. Muito estados ficaram vários meses sem nenhuma ação voltada para a retomada das atividades no, no mesmo período, após a paralização no mês de março. Outra pesquisa da FGV/RJ rebelou Alagoas em sétimo lugar no país, com menor número de dias sem atividades escolares, no período de março a outubro de 2020. Isso porque rapidamente foi formulado e colocado em prática o Regime Especial de Atividades Escolares Não-Presenciais (REAENP) Entretanto, de qualquer maneira, não somente em Alagoas, mas como em todo o país, os impactos da pandemia na educação serão profundos e sua superação para essa geração de estudantes será gradativa, no médio e longo prazo. 06 - Como avalia a atuação e investimento do Governo Federal no tocante a educação? Assim como aconteceu na área de saúde, o governo federal, nesta crise sanitária, praticamente não colaborou com os estados e municípios para minorar os efeitos da pandemia. O conjunto dos secretários de estado da educação, no âmbito do Conselho Nacional de Secretários de Estado da educação (Consed), tem contribuído muito para a troca de experiências, reivindicações de pautas com o governo federal, discussão de modelos de ensino, adoção de tecnologias, etc. As secretarias estaduais, por sua vez, viraram as principais coordenadoras de ações para os milhares de municípios e gestores locais. Uma responsabilidade que não é somente nossa, mas deveria ser compartilhada com o governo federal. Na ausência desse, não podemos nos furtar à essa situação nesse contexto tão dramático para o país e sua história.

*Estagiário sob supervisão da editoria