Alagoas é Plural
18/09/2023 12:33 - Geral
A imagem que ilustra esse texto foi feita em Alagoas, em 1943, pelo francês Marcel Gautherot. A fotografia em preto e branco, paradoxalmente, retrata um dos autos mais coloridos do nosso folclore, o Guerreiro. Tipicamente alagoana, a manifestação artística originou-se a partir do Reisado e do Caboclinho, com influências do Pastoril, da Chegança e do Bumba-meu-boi. O Guerreiro é, portanto, plural. Assim como Alagoas em sua diversidade histórica, geográfica, social e cultural.
A tese dessa pluralidade pode parecer genérica e muitos devem pensar que isso se aplica a muitos outros lugares no Brasil e no mundo. A diferença está, justamente, nos detalhes que cercam o pequeno território alagoano, situado estrategicamente no coração da região Nordeste, entre o Oceano Atlântico e o Rio São Francisco. As polêmicas que cercam o estado são muitas, desde o período colonial. As desigualdades também.
Mas a diversidade de paisagens, pessoas e tradições revela saberes e fazeres muito originais. Apesar da chamada "cultura alagoana" ter surgido historicamente apenas no século XIX, após a emancipação política da Província de Pernambuco, sua gênese é bem anterior. Vem dos idos de 1500, quando o Brasil foi invadido, provocando os confusos encontros entre povos indígenas, europeus e africanos escravizados.
Os primeiros registros sobre Alagoas foram, claro, feitos por estrangeiros: portugueses, franceses, holandeses e alemães, que exploravam cada palmo de chão tentando entender o chamado Novo Mundo, e tudo que ele poderia render para as metrópoles europeias. Foram eles que traçaram mapas, apontaram povoados, engenhos, currais, fortificações, casas e igrejas, além de realizar um levantamento das lagoas e rios já conhecidos no período.
É confiando nessas fontes que passamos a conhecer os principais episódios fundadores do imaginário alagoano. O genocídio dos Caetés; a fixação dos colonos portugueses no interior do território, após constantes invasões, principalmente francesas e holandesas; e a resistência africana no Quilombo dos Palmares, marco essencial na luta dos povos escravizados no Brasil.
Dessa forma, ao longo dos séculos, os aspectos cotidianos da população local vão se revelando e compondo uma trama recheada de memórias, textos e imagens que ajudam a explicar a diversidade cultural alagoana. O atual estágio da nossa produção de conhecimento acaba refletindo esse percurso histórico, dominado pelas desigualdades, tão onipresente quanto o mar e o Sertão.
Somos pouco mais de 3 milhões de habitantes em 102 municípios, que dividem os 27.848 quilômetros quadrados. Mas, o abismo que separa as classes sociais, e aqui não há qualquer interesse em retroalimentar polarizações, continua sendo uma das nossas principais características, embora não seja problema exclusivo de Alagoas.
A boa notícia é que, nos últimos anos, os investimentos em educação, através de programas de transferência de renda para estudantes do ensino médio; saúde, com a ampliação do atendimento básico; e segurança, com uma diminuição gradual dos índices de violência, vêm elevando a qualidade de vida da população.
Apesar do avanço ainda ser tímido, os novos índices começam a tirar o estado das últimas posições no ranking do desenvolvimento humano. Uma coisa é certa (e inegável): a maior riqueza de Alagoas é, sem dúvida, a diversidade do seu povo e da sua cultura. Contra todas as adversidades, históricas ou sociais, a população segue corajosa preservando sua memória ancestral.
As manifestações folclóricas, a gastronomia, a arte popular, que produz peças conhecidas no Brasil e no mundo. O cinema, a música, a dança, a arte contemporânea, a literatura e tantos outros campos da sensibilidade artística se apoiam nessa cultura tão diversa e produzem obras únicas.
É a pluralidade que nos interessa. Esse espaço surge com um propósito: mostrar as muitas Alagoas que se transmutam e, criativamente, fazem girar a roda. Vamos abordar pessoas, movimentos, comportamentos e, sobretudo, contar histórias, revelar novos olhares e curiosidades de um povo que não cansa de se reinventar.