Sobe número de pessoas em situação de rua
Atendimentos a indivíduos nessa condição cresceu 1.316% em Maceió
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Os atendimentos à população de rua em Maceió tiveram um aumento de 1.316% se comparados o ano de 2018 com 2019. Segundo dados da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), em 2018 foram 187 pessoas em situação de rua abordadas, já no ano seguinte foram 2.462.
Do total das abordagens realizadas em 2018, 88 não possuíam residência e 99 saíram de casa.
Em 2019, as equipes da Semas atenderam 131 famílias acolhidas e abordaram 2.462 pessoas nas ruas de Maceió.
De acordo com a secretaria, atualmente não existe pesquisa que consiga fechar o número de pessoas em situação de rua e, ainda que existisse, há de se considerar que essa população é flutuante.
Para o coordenador do Movimento Nacional da População em Situação de Rua de Alagoas e presidente do Conselho Estadual de Assistência Social (Ceas/AL), Rafael Machado, por ser uma população sazonal não existem números exatos.
“Dados concretos não têm. Atualmente, o Cadastro Único aponta que são cerca de 300 pessoas em situação de rua em todo o estado. Esses dados são de 2007/2008, e de tão antigos não condizem com a realidade atual. A estimativa do movimento é de que, só na parte baixa de Maceió, são mais de duas mil pessoas, e isso sem contar na parte alta”, ressalta Rafael.
Ainda segundo o representante da população de rua em Alagoas, existem pessoas nesta situação em outras cidades do estado, como Arapiraca e Palmeira dos Índios.
“A gente tem a questão de atendimento em grupo, rodas de conversa, mas triagem não existe. O movimento não teria como fazer por falta de verba. Mas o governo poderia fazer. Inclusive, o conselho já deliberou uma pesquisa a ser realizada. Estamos esperando a execução dela – foi aprovada no conselho a pesquisa e o diagnóstico da população em situação de rua no estado’’, explica Rafael.
Já os dados de denúncias feitas ao Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), apontam que de 2015 até o primeiro semestre de 2019, 53 pessoas estavam em situação de rua no estado. É importante ressaltar que a quantidade não condiz com a realidade porque os registros foram apenas de denúncias cadastradas.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) no momento não tem em suas pesquisas dados sobre moradores de rua por se tratar de um órgão que trabalha com pesquisas domiciliares.
Mas o órgão afirma que possui estudos sobre este assunto e está elaborando a melhor metodologia para assim captar essa informação nas próximas pesquisas.
“Falta de políticas públicas e desemprego colaboram para situação”
Para a socióloga Danúbia Barbosa, a capital do estado figura junto com outras capitais do Nordeste com grandes índices de exclusão, altas taxas de desemprego, baixa escolaridade, falta de moradia, desestruturação da família.
“Isto vai empurrando muitos indivíduos para viver em situação de rua. Já tive o prazer de realizar um trabalho com esses moradores. Muitos relatam que a solidariedade na rua é maior do que quando eles ainda viviam com a família’’, relata a socióloga.
Ainda de acordo com Barbosa, há falta de políticas públicas que façam a inserção dessas pessoas na volta à escola, ao mercado de trabalho e dando oportunidades reais. “Se houvesse, conseguiríamos mudar essa situação, sem contar que a quantidade de abrigos ou albergues em Maceió é quase inexistente para o quantitativo que vivem nas ruas. Esses abrigos que ainda funcionam, geralmente são para homens, deixando as mulheres de fora’’, comenta avaliando que “as pessoas que estão nessa condição são tão sofridas, excluídas e marginalizadas, e precisam que o braço do estado os alcance e consiga fazer uma transformação efetiva’’.
ATENDIMENTOS
A Semas informa que em Maceió, possui o Serviço Especializado em Abordagem Social, que consiste em ofertar serviços socioassistenciais para a população em situação de rua e os dados apresentados correspondem ao número de abordagens realizadas.
Maceió oferta duas Unidades de Acolhimento Institucional para essa população, que são: Casa de Passagem Manoel Coelho Neto, destinada a indivíduos de ambos os sexos, e a Casa de Passagem Familiar, destinada a famílias em situação de rua.
Nessas unidades de acolhimento, a população é atendida por uma equipe técnica composta por psicólogos e assistentes sociais que começam o processo de oferta de serviços e benefícios socioassistenciais, incluindo tentativa de fortalecimento de vínculos familiares rompidos.
Os Centros POP atendem entre 25 e 30 pessoas por turno, de segunda a sexta-feira. A Casa de Passagem Manoel Coelho Neto tem capacidade para atender até 50 pessoas e a Casa de Passagem Familiar pode atender até 10 famílias.
Palmeira dos Índios e Arapiraca também possuem atendimento nos centros de referência. Rafael Machado confirma que existem de fato as abordagens e os atendimentos por equipes multidisciplinares da prefeitura e do estado, no entanto, não comportam a todos.
“O que temos no estado é muito pouco para atender o número de pessoas. Em Maceió com mais de duas mil pessoas nesta situação, só existem dois centros de acolhimento. Um dos abrigos na capital é para serviços noturnos de alta complexidade. Assim como o de Palmeira. E os Centros POP para serviços de média complexidade para atendimentos médios, durante o dia. Aí existem seis equipes de abordagens sociais e seis de consultórios na rua, porém é pouco para o público que temos nessa realidade”.
Fonte: Tribuna Independente / Texto: Lucas França