Estudo mostra impacto maior da pandemia na educação entre os mais pobres
Levantamento comparou o desempenho de alunos das periferias com os de bairros de maior renda do Rio de Janeiro e constatou desigualdade no aprendizado na pandemia
Publicado 29/03/2023 18:03 | Editado 30/03/2023 16:55
No início da pandemia de Covid-19, era comum o discurso de que estávamos todos no “mesmo barco”. Mas, já naquele momento era mais do que sabido que alguns atravessariam a tempestade em iates seguros, enquanto a maioria tentaria sobreviver em botes frágeis. No Brasil, tal desigualdade, somada à omissão do governo de Jair Bolsonaro, tornou o quadro ainda mais dramático, fazendo com que a doença atingisse de maneira mais forte as populações empobrecidas, impactando também na educação.
O 15º Mapa Social do Corona, do Observatório das Favelas, constatou que o ensino remoto — necessário durante o período mais crítico da pandemia, mas inacessível à maioria dos alunos — impactou de maneiras diferentes o desempenho de alunos de bairros de classe média em comparação com os de periferias.
Segundo o mapa, os bairros de maior renda mantiveram o desempenho pré-pandemia, mas em localidades como Rocinha e Cidade de Deus, a taxa caiu; já a Maré conseguiu assegurar valores similares.
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Para entender a situação, o levantamento usou os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, quando ainda não havia pandemia, e os de 2021, quando houve maior número de casos e mortes pela Covid-19, e escolheu os bairro de Cidade de Deus, na zona oeste; Rocinha, na zona sul; e Complexo da Maré, na zona norte.
Na comparação entre o desempenho dos alunos da Maré com os da Tijuca, constatou-se que em 2019, os estudantes tiveram média escolar parecida: 5,4 para os do primeiro bairro e 5,7 para os do segundo. Em 2021, embora a média ainda fosse próxima, a diferença foi para 5,1 para os alunos da Maré e 5,5 para os da Tijuca.
Quando observadas a relação entre Rocinha e Copacabana e entre Cidade de Deus e Barra da Tijuca, a diferença se repete. No primeiro ano, a Rocinha tinha média de 5,6 e Copacabana, 6,4. Dois anos depois, a Rocinha passou a ter média de 5,2, (queda de 0,4), e Copacabana evoluiu para 6,5.
O estudo explica que “territórios de favelas e periferias, marcados pelas desigualdades socioeconômicas, foram extremamente impactados por esse cenário. No entanto, em função de seu potencial criativo e inventivo para enfrentar as desigualdades, também foram construídas nestes territórios estratégias de proteção do direito à educação, por meio da sociedade civil organizada”.
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Uma dessas experiência foi narrada no Mapa. “Meus filhos tiveram dificuldade para acessar os materiais porque não temos computador em casa e a Redes da Maré (ONG que atua na comunidade) ofereceu um tablet para que pudessem estudar em casa e eles custearam a internet. Também recebi da Redes cesta básica e álcool em gel”, disse uma mãe e moradora da Vila do João identificada como Cassiane.
A conclusão do estudo aponta que no período pandêmico, “os resultados obtidos por organizações sociais atuantes em favelas conseguiram mitigar os impactos sociais da pandemia em seus territórios, como no caso da Maré. Foram agentes protagonistas na garantia do direito fundamental à educação”.
Clique aqui para ler a íntegra do estudo.
(PL)